terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Razão acima da emoção

"A razão antes do coração." Sei que é bem difícil, no futebol ou na vida, seguir o mandamento de Ernest Hemingway.

A frase que começa essa postagem foi escrita pelo cronista, jornalista e escritor mineiro Roberto Drummond, em sua estréia como cronista esportivo no Estado de Minas. Atleticano fanático, Drummond falava exatamente sobre a questão da emoção e da razão de um jornalista, que o profissional não deve deixar transparecer sua opinião ou emoção. Esteja ele falando de seu time do coração, de um desastre ou de um assalto.
Agora, até onde o jornalista deve deixar de lado sua emoção para contar uma notícia? No último domingo, dia 7 de dezembro, cheguei em casa da final da Copa Campus, um teste para meu coração e principalmente para o meu emocional.
A final foi entre Tornassol (time de Engenharia Química da UFRJ) e Padaria (equipe de Educação Física da UFRJ). Nos pênaltis, o Padaria levou a melhor, vencendo sua primeira Copa. Por mais que você queira não torcer, você acaba torcendo por alguém. Não tem jeito. E quando o juiz apita o final do jogo, ou quando o último pênalti é batido e um dos times se torna campeão, alguma emoção toma conta de você. Alegria ou decepção. Falar que não se sente nada é hipocrisia. Ainda assim, por mais feliz ou triste que você esteja, você deve sempre enterrar seu sentimento.
Mas será que não transmitir emoção em nenhuma situação é tão bom assim?

Mas celebrar ou lamentar um título nem foi meu maior problema na cobertura da Copa. Aconteceram uns lances aí durante a semana, que pouco tem a ver com a Copa, mas que me destruíram por dentro. Sentei na mesa do computador para digitar as matérias da Copa com o coração despedaçado, a alma destruída, com um desânimo e tristeza que não sentia havia muito tempo.
Eu não tinha cabeça nem coração para escrever a matéria. Mas o que eu iria fazer? Simplesmente não falar da decisão do terceiro lugar, nem da luta pela artilharia da Copa?
Não. Acima de tudo, tive que colocar a razão acima da emoção e cumprir meu papel de jornalista. Por pior que eu estivesse, simplesmente não poderia deixar de cumprir meu dever. Queria que minhas possíveis matérias de despedida da Copa (não sei se continuarei no ano que vem) fossem feitas com a mesma garra que fiz todas as outras.

Bem, gente, por hoje é só...
Ainda ando meio desanimado, mas esse não é meu blog pessoal. É mais profissional.
E os links das postagens são pra minhas matérias no site da Copa, podem clicar!

Lucas C. Silva

8 comentários:

J.F. Marques disse...

Legal o seu post cara. Eu já tinha pensado nessas coisas mas você exemplificou de uma maneira muito boa.
Temos que ser profissionais em várias ocasiões da vida mesmo.
Abraço e até o próximo post.

Anônimo disse...

cara, tens muito ferro para levar...a coisa ainda te engatinhando...muitas vezes da vontade de se matarç.

Anônimo disse...

Seu post exemplificou bem esta "luta" interior que o jornalista deve sempre vencer. Somos seres humanos, passíveis de sentirmos emoções. Mas na hora de escrever, nós somos apenas o veículo de passar a informação. Parabéns pelo blog e sucesso na ECO. Se Deus quiser, ano que vem estarei lá! Vou te linkar no meu blog, o ECOstancia. Se puder, me link também! Abraço.

Wander Veroni Maia disse...

Oi, Lucas!

Lendo o seu post, fiquei pensando em vários debates que o artigo propõe na nossa profissão de jornalista. O primeiro deles é a questão da imparcialidade - de que o jornalista não deve ter opinião, não deve se relacionar com a fonte... um blá-blá-blá que está mais do que ultrapassado. E que não existe na prática.

Claro, repórter tem que seguir a linha editorial do veículo em que trabalha. Mas o que fará um profissional se diferenciar do outro é a capacidade dele (e o espaço que o veículo no qual trabalha permitir) de ir além da notícia: informar e mostrar opinião, de forma crítica e embasada.

O que sinto hoje é que as faculdades não preparam o jornalista para as inúmeras possibilidades de abordagem de um mesmo fato. O jornalismo impresso e factual é o mais explorado nos cursos de jornalismo.

Uma tendência que vejo hoje na web, no impresso e na TV é o fato de transformar a notícia em algo mais análitico e atraente, ou seja: a cobertura do não-factual.

Quando saímos da faculdade temos que re-aprender que não é só a cobertura factual que existe. Existe várias possibilidades, principalmente o fato de se poder analisar uma situação, informar sobre um acontecimento, dar opinião e convidar fontes (entrevistados) para participarem com suas idéias. Cruzar depoimentos é algo que cresce muito uma matéria.

Vou dar o meu exemplo pessoal: quando vou cobrir um fato e não posso opinar sobre ele diretamente na matéria por conta da linha editorial, procuro colocar fontes habilitadas para falarem sobre isso e, até mesmo, convidar uma outra fonte que discorde de um situação, para ter dois ou mais pontos de vista.

Mas o segredo do bom jornalista é ir além: se te pedirem para fazer X, ofereça XYZ. Se você está cobrindo algo e sente necessidade de expor a sua opinião, faço um artigo embasado, um editorial e ofereça tanto a matéria quanto o artigo. O máximo que você pode ter é um NÃO. Caso tenha esse não, o que não falta é espaço para você publicar as suas idéias - visto que muitos blogs nascem a partir disso.

Sempre vá além nas suas matérias. Se possível tire fotos, crie podcast/videocast - mas não se limite. Só tentando novos formatos e novas abordagens que poderemos fazer que a alma do jornalism,o que é informar, não morra ou se corrompa: seja por meio da análise ou por meio da informação "imparcial".

Abraço e feliz 2009!

Anônimo disse...

Deve ser difícil separar razão de emoção.Eu as vezes tento fazer isso, mas nao dá muito certo...rs

Everton Domingues disse...

Acredito muito na idéia que escrevi no cabeçalho de um dos meus blogs, o Beijing Olímpica. A missão de jornalista acaba sendo mais ampla, eu sei, mas aquele é meu norte.
Parabéns pelo trabalho, Lucas, Gostei tb da entrevista com o Marsiglia. Já trabalhei com o figura, gente muito boa.
Qdo puder visite meus 'filhotes', vou ter prazer de trocar figurinhas com amigos do esporte como vc.

Abração

Everton Domingues
www.vancouverolimpica.blogspot.com
www.beijingolimpica.blogspot.com
www.londresolmpica.blogspot.com

Wander Veroni Maia disse...

Opa! Estou passando para lhe falar que indiquei seu blog para ganhar um pacotão especial de selos lá no Café com Notícias. Passe lá e pegue o seu presente!

Abraço

=]
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http://cafecomnoticias.blogspot.com

Lebarbenchon disse...

Razão antes da emoção, sem dúvida nenhuma! A emoção nos desconcentra, atrapalha ora ou outra nossa capacidade de discernir... Mas quando se percebe lá está a mesma, batendo em nossas portas.

Me parece que o que aconteceu contigo foi um "teste". Até que ponto tu consegues separar o profissional do pessoal, não permitir que o emocional afete tua racionalidade... E bem, conseguiste, mesmo arrasado. Soubeste lidar com a situação.